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Um problema de psicopatologia do século XIX Freud e Kraepelin

 

Isto deveria parecer uma citação anedótica, chistosa, dessas que abundam nos relatos da filosofia e da história da ciência.

 

Todavia parece ser a primeira citação de Freud a Emil Kraepelin e forçou as conseqüências da fonte citada. E quase cem anos depois modulou e gerou uma nova posição do analista na direção do tratamento.

 

Data da publicação do Compendium der Psychiatrie. Leipzig: Abel, (1883) [Kraepelin, E.]

 

Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905) [Freud,S.]

 

EDIÇÕES ALEMÃS:

1905   Leipzig e Viena: Deuticke, Pp. ii + 206.

1912   2ª ed. Mesmos editores. (Com alguns pequenos acréscimos.) Pp. iv + 207.

 

I - INTRODUÇÃO - DER WITZ UND SEINE BEZIEHUNG ZUM UNBEWUSSTEN

 

"(...)Outras idéias, mais ou menos inter-relacionadas, que têm emergido para a definição ou a descrição dos chistes, são as seguintes: um contraste de idéias, sentido no nonsense, desconcerto e esclarecimento.

 

Definições como a de Kraepelin enfatizam como fator principal o contraste de idéias. Um chiste é a conexão ou a ligação arbitrária, através de uma associação verbal, de duas idéias, que de algum modo contrastam entre si. (...)" [Kraepelin, E. (1885) Zur Psychologie des Komischen, Philosophische Studien, ed. W. Wundt. 2, 128 e 327, Leipzig.]

 

Sobre esta citação de Kraepelin, Freud conclui:

 

"(...)Se esse ponto for mais desenvolvido, o contraste entre sentido e nonsense torna-se significante. Aquilo que, em certo momento, pareceu-nos ter um significado, verificamos agora que é completamente destituído de sentido. Eis o que, nesse caso, constitui o processo cômico Um comentário aparece-nos como um chiste se lhe atribuímos uma significância dotada de necessidade psicológica, e tão logo tenhamos feito isso, de novo o refutamos. Essa significância pode querer dizer várias coisas. Atribuímos sentido a um comentário e sabemos que logicamente ele não pode ter nenhum. Descobrimos nele uma verdade, fato impossível de acordo com as leis da experiência ou com nossos hábitos gerais de pensamento.(...)".

 

 

A descrição da obra de Kraepelin abaixo deve-se a:

Johannes Meijer - Buenos Aires

 

Neurose de Freud, Dementia Praecox de Kraepelin

 

Uma fecunda questão de Psicopatologia contemporânea para a Psicanálise

 

 

          Ein Lehrbuch für Studierende und Ärzte 

                   Emil Kraepelin

                   Leipzig, Barth, 8ª ed. 1913

          Um manual para estudantes e médicos

                  

 

               "Allgemeines psychisches Krankeitsbild"

       ["Quadro clínico psíquico geral"],

                  do tomo III, "Klinische Psychiatrie"

                  ["Psiquiatria clínica"], Parte II, Seção IX, "Die endogenen  Verblödungen" ["As demências endógenas"],

         

              Capítulo A, "Die Dementia praecox" ["A demência precoce"]

 

 

Freud mencionou Kraepelin pelo menos quatro vezes. Esta é a Edição do Compendium  Um manual para estudantes e médicos   que data de 1913. É improvável que Freud a desconhecesse posto que Kraepelin nela menciona Eugen Bleuler e Freud menciona a ambos:

 

     Visto nossas análises demonstrarem que os paranóicos se esforçam por proteger-se contra esse tipo de sexualização de suas catexias sociais instintuais, somos levados a supor que o ponto fraco em seu desenvolvimento deve ser procurado em algum lugar entre os estádios de auto-erotismo, narcisismo e homossexualismo, e que sua disposição à enfermidade (que talvez seja suscetível de definição mais precisa) deve estar localizada nessa região. Uma disposição semelhante teria de ser atribuída aos pacientes que sofrem da demência precoce de Kraepelin ou de (como Bleuler a denominou) esquizofrenia; e esperamos, posteriormente, encontrar pistas que nos permitam remontar às diferenças entre os dois distúrbios (com referência tanto à forma que assumem quanto ao curso que seguem) a diferenças correspondentes nas fixações disposicionais dos pacientes."

 

  A explicação causal [Deutung] ultrapassa a descrição clínica de Kraepelin

 

       "Assumindo então o ponto de vista de que o que jaz no cerne do conflito, nos casos de paranóia entre indivíduos do sexo masculino, é uma fantasia de desejo homossexual de amar um homem, certamente não esqueceremos que a confirmação de hipótese tão importante só pode decorrer da investigação de um grande número de exemplos de toda espécie de distúrbio paranóide."

 

 

 

Schreber e o diagnóstico de Dementia Paranoides

Como a Teoria das Neuroses tratou a psicose

 

     Freud observou que como o quadro avançava para deterioração [demência] e como continha um sólido delírio [paranóia] ele parece escolher uma entidade dupla.

   Essa flutuação foi registrada pelo Editor inglês quando ele aponta para dificuldade de se  traduzir do alemão para o inglês as  "produções dos esquizofrênicos", abaixo. O diagnóstico alinha-se com aquele de Emil Kraepelin de Dementia Praecox [demência precoce]. 

 

  Freud mencionara psicose histérica a propósito de Anna O. nos Estudos Sobre Histeria.

 

  Sigmund Freud

 

NOTAS PSICANALÍTICAS SOBRE UM RELATO AUTOBIOGRÁFICO DE UM CASO DE PARANÓIA (DEMENTIA PARANOIDES) (1911)

 

   PSYCHOANALYTISCHE BEMERKUNGEN ÜBER EINEN AUTOBIOGRAPHISCH BESCHRIEBENEN FALL VONPARANOIA (DEMENTIA PARANOIDES)

 

 

As Memórias de Schreber foram publicadas em 1903; mas, embora houvessem sido amplamente debatidas em círculos psiquiátricos, só parecem ter atraído a atenção de Freud no verão de 1910. Sabe-se que falou sobre elas e sobre todo o tema da paranóia durante sua viagem à Sicília, com Ferenczi, em setembro desse ano. No retorno a Viena, começou a escrever o artigo, cujo término foi anunciado a Abraham e Ferenczi em cartas datadas de 16 de dezembro. Não parece ter sido publicado até o verão de 1911. O Pós-escrito foi lido perante o Terceiro Congresso Psicanalítico Internacional (realizado em Weimar), em 22 de setembro de 1911, e publicado no início do ano seguinte.

 

Freud atacara o problema da paranóia numa fase muito prematura de suas pesquisas em psicopatologia. Em 24 de janeiro de 1895, alguns meses antes da publicação dos Estudos sobre a Histeria, enviou a Fliess longo memorando sobre o assunto (Freud, 1950a, Rascunho H). Este incluía uma breve história clínica e um exame teórico que visava a estabelecer dois pontos principais: que a paranóia é uma neurose de defesa e que seu mecanismo principal é a projeção. Quase um ano depois (em 1º de janeiro de 1896), enviou a Fliess outra nota, muito mais breve, sobre paranóia, parte de um relato geral sobre as neuroses de defesa (ibid., Rascunho K), que pouco depois ampliou em seu segundo trabalho publicado com aquele título (1896b). Nessa publicação, a Seção II incluía outra história clínica, mais extensa, intitulada Análise de um Caso de Paranóia Crônica, caso para o qual Freud (em nota de rodapé acrescentada quase 20 anos depois) preferiu o diagnóstico corrigido de dementia paranoides. Com referência à teoria, esse trabalho de 1896 pouco acrescentava às suas sugestões anteriores; mas, numa carta a Fliess não muito posterior (9 de dezembro de 1899, Freud, 1950a, Carta 125), há um parágrafo um tanto crítico, que prenuncia considerações posteriores de Freud, inclusive a sugestão de que a paranóia acarreta o retorno a um auto-erotismo primitivo. Este parágrafo é transcrito na íntegra na Nota do Editor Inglês ao artigo sobre A Disposição à Neurose Obsessiva, com relação ao problema da escolha da neurose. (Ver a partir de [1].).

 

Entre a data desta última passagem e a publicação da história clínica de Schreber, mais de dez anos se passaram quase sem haver menção à paranóia nos escritos publicados de Freud. Informam-nos Ernest Jones (1955, 281), contudo, que em 21 de novembro de 1906 ele apresentou um caso de paranóia feminina perante a Sociedade Psicanalítica de Viena. Nessa data, aparentemente ainda não havia chegado ao que deveria ser sua generalização principal sobre o assunto, a saber, a vinculação existente entre paranóia e homossexualismo passivo reprimido. Não obstante, pouco mais de um ano mais tarde, apresentava esta hipótese em cartas a Jung (27 de janeiro de 1908) e Ferenczi (11 de fevereiro de 1908), dela pedindo e recebendo confirmação. Mais de três anos se passaram antes que as memórias de Schreber lhe oferecessem a oportunidade de publicar sua teoria pela primeira vez e de apoiá-la em um relato detalhado de sua análise dos processos inconscientes em ação na paranóia.

 

Há várias referências a essa enfermidade nos escritos posteriores de Freud. As mais importantes foram seu artigo sobre Um Caso de Paranóia que Contraria a Teoria Psicanalítica da Doença (1915f), e a Seção B de Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranóia e no Homossexualismo (1922b). Além disso, Uma Neurose Demonológica do Século XVII (1923d) inclui um exame do caso Schreber, embora a neurose, que é o tema do trabalho, em parte alguma seja descrita por Freud como paranóia. Em nenhum desses escritos posteriores há qualquer modificação essencial dos pontos de vista sobre paranóia expressos no presente trabalho.

 

A importância da análise de Schreber, contudo, de maneira alguma se restringe à luz que lança sobre o problema da paranóia. A terceira parte, especialmente, foi, sob muitos aspectos, assim como o breve artigo simultaneamente publicado sobre os dois princípios do funcionamento mental (1911b), ver em [1], precursora dos artigos metapsicológicos a que Freud se dedicou, três ou quatro anos mais tarde. Expuseram-se vários temas que posteriormente deveriam ser examinados mais detalhadamente. Assim, as observações sobre narcisismo (Ver a partir de [1].) antecederam o artigo dedicado a este tema (1914c), a descrição do decurso de alguns anos (1915d), e o exame dos instintos (ver em [2]) preparava terreno para um estudo mais elaborado em os Instintos e suas Vicissitudes (1915c). Já o parágrafo sobre projeção (ver em [3]), apesar de promissor, não encontraria nenhuma seqüência. Cada um dos dois tópicos examinados na última parte do trabalho, contudo as diversas causas do desencadeamento da neurose (inclusive o conceito de frustração) e o papel desempenhado por pontos de fixação sucessivos deveria ser tratado antes que decorresse muito tempo, em artigos separados (1912c e 1913f). Finalmente, no pós-escrito, encontramos a primeira rápida excursão de Freud pelo campo da mitologia e a primeira menção aos totens, que estavam começando a ocupar seus pensamentos e deveriam fornecer o título para uma de suas obras principais (1912-13).

 

Como Freud nos diz (Ver em [1].), sua história clínica faz uso apenas de um único fato (a idade de Schreber à época em que caiu enfermo) que não se achava contido nas Memórias. Possuímos hoje, graças a um trabalho escrito pelo Dr. Franz Baumeyer (1956), certa quantidade de informações adicionais. O Dr. Baumeyer esteve por alguns anos (1946-9) encarregado de um hospital situado perto de Dresden, onde encontrou alguns dos registros clínicos originais das sucessivas doenças de Schreber. Resumiu estes registros e citou muitos deles na íntegra. Além disso, coligiu grande número de fatos relacionados à história familiar e aos antecedentes de Schreber.

Toda vez que esse material for importante para o trabalho de Freud, será mencionado nas notas de rodapé. Neste momento, é necessário apenas relatar a seqüência à história narrada nas Memórias. Após sua alta, em fins de 1902, Schreber parece ter levado uma existência exteriormente normal por alguns anos. Então, em novembro de 1907, a esposa teve uma crise de paralisia (embora vivesse até 1912), o que parece ter precipitado novo desencadeamento de sua enfermidade. Foi novamente internado agora num asilo situado no distrito de Dösen em Leipzig duas semanas mais tarde. Ali permaneceu, em estado extremamente perturbado e muito intratável, até sua morte, após deterioração física gradativa, na primavera de 1911 pouco tempo apenas antes da publicação do trabalho de Freud. O seguinte quadro cronológico, baseado em dados derivados, parte das Memórias e parte do material de Baumeyer, pode tornar os pormenores do estudo de Freud mais fáceis de desemaranhar.

 

1842   25 de julho. Daniel Paul Schreber nasce em Leipzig.

1861   Novembro. Morre-lhe o pai, com 53 anos de idade.

1877   O irmão mais velho (3 anos mais) morre com 38 anos.

1878   Casamento.

Primeira Doença

1884   Outono. Apresenta-se como candidato ao Reichstag.

1884   Outubro. Passa algumas semanas no Asilo de Sonnenstein.

8 de dezembro. Clínica Psiquiátrica de Leipzig.

1885   1º de junho. Alta.

1886   1º de janeiro. Toma posse no Landgericht de Leipzig.

Segunda Doença

1893   Junho. É informado da nomeação próxima para o Tribunal de Apelação.

1º de outubro. Toma posse como juiz presidente.

21 de novembro. É internado novamente na Clínica de Leipzig.

1894

14 de junho. É transferido para o Asilo de Lindenhof.

 

29 de junho. É transferido para o Asilo de Sonnenstein.

1900-1902   Escreve as Memórias e impetra ação judicial para ter alta.

1902   14 de julho. Decisão judicial de alta.

1903   Publicação das Memórias.

Terceira Doença

1907   Maio. Morre-lhe a mãe, com 92 anos de idade.

14 de novembro. A esposa tem uma crise de paralisia.

Cai enfermo imediatamente após.

27 de novembro. É admitido no Asilo, em Leipzig-Dösen.

1911   14 de abril. Morte.

1912        Maio. Morre a esposa, com 54 anos de idade.

1913         

Uma nota sobre os três hospitais psiquiátricos a que se faz menção, de várias maneiras, no texto, também pode ser útil.

(1) Clínica Psiquiátrica (departamento de pacientes internados) da Universidade de Leipzig. Diretor: Professor Flechsig.

(2) Schloss Sonnenstein. Asilo Público Saxônico em Pirna sobre o Elba, dez milhas acima de Dresden. Diretor: Dr. G. Weber.

(3) Asilo Particular Lindenhof. Perto de Coswig, onze milhas a noroeste de Dresden. Diretor: Dr. Pierson.

 

Uma tradução inglesa das Denkwürdigkeiten, de autoria da Dra. Ida Macalpine e do Dr. Richard A. Hunter, foi publicada em 1955 (Londres, William Dawson). Por diversas razões, algumas das quais serão evidentes a quem quer que compare sua versão com a presente tradução inglesa, não foi possível fazer uso dela para as muitas citações do livro de Schreber que ocorrem na história clínica. Há dificuldades específicas em traduzir as produções dos esquizofrênicos[1], nas quais as palavras, como o próprio Freud apontou em seu artigo sobre O Inconsciente (Ver a partir de [1], 1974), desempenham papel tão predominante. Aqui o tradutor se defronta com os mesmos problemas que tão amiúde encontra em sonhos, lapsos de língua e chistes. Em todos esses casos, o método adotado na Standard Edition é o método prosaico de, onde necessário, fornecer as palavras originais alemãs em notas de rodapé e procurar, mediante comentários explicativos, oferecer ao leitor [inglês] oportunidade para formar opinião própria sobre o material. Ao mesmo tempo, seria enganoso desprezar inteiramente as formas exteriores e, através de uma tradução puramente literal, apresentar um retrato inculto do estilo de Schreber. Uma das características notáveis do original é o contraste que perpetuamente oferece entre as frases complicadas e elaboradas do alemão oficial acadêmico do século XIX e as extravagâncias outré dos eventos psicóticos que descrevem. Informações adicionais interessantes sobre o pai de Schreber podem ser encontradas em Niederland, W. G. (1959a) e (1959b).

Por todo o trabalho, os números entre colchetes sem serem precedidos por p. constituem referências às páginas da edição alemã original das memórias de Schreber Denkwürdikeiten eines Nervendranken, Leipzig, Oswald Mutze. Números entre colchetes precedidos por p. são, como sempre acontece na Standard Edition, referências a páginas do presente volume.

 

                                     Introdução [Freud]

 

 

A investigação analítica da paranóia apresenta dificuldades para médicos que, como eu, não estão ligados a instituições públicas. Não podemos aceitar pacientes que sofram desta enfermidade, ou, de qualquer modo, mantê-los por longo tempo, visto não podermos oferecer tratamento a menos que haja alguma perspectiva de sucesso terapêutico. Somente em circunstâncias excepcionais, portanto, é que consigo obter algo mais que uma visão superficial da estrutura da paranóia quando, por exemplo, o diagnóstico (que nem sempre é questão simples) é incerto o bastante para justificar uma tentativa de influenciar o paciente, ou quando, apesar de um diagnóstico seguro, submeto-me aos rogos de parentes do paciente e encarrego-me de tratá-lo por algum tempo. Independente disto, naturalmente, vejo muitos casos de paranóia e de demência precoce e aprendo sobre eles tanto quanto outros psiquiatras o fazem a respeito de seus casos; mas em geral isso não é suficiente para levar a quaisquer conclusões analíticas.

 

A investigação psicanalítica da paranóia seria completamente impossível se os próprios pacientes não possuíssem a peculiaridade de revelar (de forma distorcida, é verdade) exatamente aquelas coisas que outros neuróticos mantêm escondidas como um segredo. Visto que os paranóicos não podem ser compelidos a superar suas resistências internas e desde que, de qualquer modo, só dizem o que resolvem dizer, decorre disso ser a paranóia um distúrbio em que um relatório escrito ou uma história clínica impressa podem tomar o lugar de um conhecimento pessoal do paciente. Por esta razão, penso ser legítimo basear interpretações analíticas na história clínica de um paciente que sofria de paranóia (ou, precisamente, de dementia paranoides) e a quem nunca vi, mas que escreveu sua própria história clínica e publicou-a.

 

Refiro-me ao doutor em Direito Daniel Paul Schreber, anteriormente Senatspräsident em Dresden, cujo livro. Denkwürdigkeiten eines Nervenkranken [Memórias de um Doente dos Nervos], foi publicado em 1903, e, se estou corretamente informado, despertou considerável interesse entre os psiquiatras. É possível que o Dr. Schreber viva ainda hoje e que se tenha distanciado de tal forma do sistema delirante que apresentou em 1903 que possa sentir-se magoado por estas notas a respeito do seu livro. Contudo, na medida em que ele ainda se identifique com sua personalidade anterior, posso apoiar-me nos argumentos com que ele próprio homem de dotes mentais superiores e contemplado com agudeza fora do comum, tanto de intelecto quanto de observação contraditou os esforços levados a efeito visando a coibi-lo de publicar suas memórias: Não tive problemas, escreve ele, em fechar os olhos às dificuldades que pareciam jazer no caminho da publicação, e, em particular, à preocupação de render devida consideração às suscetibilidades de algumas pessoas ainda vivas. Por outro lado, sou de opinião que poderia ser vantajoso tanto para a ciência quanto para o reconhecimento de verdades religiosas se, durante meu tempo de vida, autoridades qualificadas pudessem encarregar-se de examinar meu corpo e realizar pesquisas sobre minhas experiências pessoais. Todos os sentimentos de caráter pessoal devem submeter-se a esta ponderação. Declara ele, em outra passagem, que decidira se ater à sua intenção de publicar o livro, mesmo que, em conseqüência, seu médico, o Geheimrat Dr. Flechsig, de Leipzig, movesse uma ação contra ele. Atribui ao Dr. Flechsig, porém, as mesmas considerações que lhe atribuo agora. Confio, diz ele, que mesmo no caso do Geheimrat Prof. Dr. Flechsig, quaisquer suscetibilidades pessoais serão sobrepujadas por um interesse científico no contexto geral de minhas memórias. (446.)

 

Embora todas as passagens das Denkwürkdigkeiten nas quais minhas interpretações se baseiam sejam citadas literalmente nas páginas seguintes, solicitaria a meus leitores tornarem-se familiarizados com o livro, lendo-o pelo menos uma vez, de antemão.

 

 

 



[1] Esta informação do Editor é o que aponta para a duplicidade do diagnóstico de Dementia Paranoides. [JP] E é dela que partiremos. Para saber mais sobre Kraepelin e Leipzig:

Emil Kraepelin

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