Considerando Gedanken e Cogito: a ciência moderna.
A argumentação more geometrico fora dada nestes termos:
Je n'admets maintenant rien qui ne soit nécessairement vrai: je ne suis donc, précisément parlant, qu'une chose que pense, cest-à-dire un esprit, un entendement ou une raison, qui sont des termes dont la signification m'était auparavant inconnue.
[Descartes, p.41, Deuxiéme Méditation, Ed. Florence Khodos. PUF. 1970.]
Merleau-Ponty considera: 1. O Cogito equivale a dizer que quando apreendo a mim mesmo me limito a observar um fato psíquico. Esta significação predominantemente psicológica é a que aparece no próprio Descartes ao dizer que está certo de existir todo o tempo que pensa nisso. 2. O cogito pode referir-se tanto à apreensão do fato de que penso como os objetos abarcados por este pensamento.
[Bulletin de la Societé Française de Philosophie, p.129-130, 1947]
Demonstração da existência de Deus segundo o costume dos geômetras
Extraído da Dissertação Ensaio sobre os fundamentos da psicanálise e a ciência moderna J.C.P Pereira 1989 [não publicado]
Ora, validade objetiva dos conhecimentos, estabelecimento da verdade, será imediatamente correlativos da demonstração da existência de Deus. A verdade será reportada ao grande Outro divino, aqui, Deus cartesiano que quer a verdade.
A tese metafísica da "livre criação das verdades eternas", se comporta o problema do fundamento da verdade parece ser, talvez, menos metafísica do que se supõe visto que a infinita perfeição de Deus virá assegurar a veracidade das idéias claras e distintas, todavia, solução que torna problemática a questão do infinito.
Doravante o Cogito, ponto de origem onde se prende a cadeia da ciência, irá comandar a marcha da ciência, instituindo-se como "condição suprema de possibilidade das matemáticas", entenda-se como condição do que se constitui como a ciência moderna, nisso que as operações do "je pense" comportam a intuição de Deus, analogamente no sentido em que o número dois é par, três é ímpar sem que se exija disso a prova; vale dizer, a matemática é uma experiência puramente simbólica e onde certas proposições são tomadas como verdadeiras e conhecidas sem prova e de uma evidência totalmente inteligível.
Provar Deus e que ele não engana é o que se propõe o sujeito, de tal sorte que não reste a mínima dúvida; mas, sobretudo, "enquanto o Cogito constitui o único ponto de apoio para a ciência, a ciência é...impossível. Pois desde que meu espírito deixa de se fixar no Cogito para se dirigir alhures, este ponto de apoio se abisma na noite da dúvida universal arrastando consigo toda a cadeia de razões".
O Cogito em sua clausura sofreria , desse modo, a atração devida à noite da dúvida onde ele ainda claudica. Posto Deus o sujeito encontra-se, então, predisposto para iniciar a marcha da ciência. Não sem antes que a hipótese de um Deus que possa enganar seja excluída, pois caso contrário permaneceria a oscilação do cogito em direção ao abismo da dúvida.
O negócio de Deus é a verdade, o negócio de Descartes é a certeza e o negócio de Freud é onde situar o Recalcamento na Paranóia. Nas três situações vigora as flutuações do significante Gott.